A Universidade Nacional de Córdoba, juntamente com o Colégio de Arquitetos da Província de Córdoba, lançou um concurso nacional (aberto a equipes interdisciplinares: arquitetos, engenheiros, biólogos e geólogos) de ideias para a realização do Centro de Interpretação Ambiental e a casa do guarda florestal da Reserva Natural Vaquerías.
A Reserva Natural de Vaquerías (RNV) foi criada pela Universidade Nacional de Córdoba em 1990. Esta intervenção deverá permitir a organização das atividades dos visitantes da reserva, promover o conhecimento de valores ambientais e culturais da mesma e gerar um ambiente adequado de residência e trabalho para os guardas florestais. Entre os requisitos estavam: Conservar uma porção dos sistemas florestais da encosta oeste de Serra Chica, conservar a diversidade biológica do Bosque Serrano, fornecer água de modo sustentável à parte baixa da bacia, conservar amostras de valor, proporcionar oportunidades de interpretação e educação ambiental como Aula Aberta, entre outros.
A seguir a proposta ganhadora do segundo lugar por Arq. Pablo Carballo + Arq. Maricruz Errasti + Arq. Daniel Huespe e o terceiro lugar formado por Arq. Manuel Martínez + Arq. Franco Morero + Arq. Nahuel Recabarren.
SEGUNDO LUGAR
Equipe: Arq. Pablo Carballo + Arq. Maricruz Errasti + Arq. Daniel Huespe
O Centro de Interpretação Ambiental constitui o primeiro contato com a reserva e é um dos pontos referenciais com valor simbólico e histórico da bacia do córrego Vaquerías. Intervir no território natural supõe um desafio de projeto que busca reforçar os valores naturais e paisagísticos do lugar com uma proposta de mínimo impacto. A extensão da paisagem junto a uma intervenção compacta dá suporte a um sistema de lugares na escala do território da reserva, captando os fluxos de pedestres em uma arquitetura que consolida o início e chegada de passeios e caminhadas.
O PROJETO COMO PAISAGEM
O projeto se integra à antiga casa da barragem através de dois blocos incorporados à topografia. A nova cobertura proporciona práticas coletivas e se configura como um terraço integrado à paisagem. A decisão de posicionar a edificação de modo compacto evita a extração da vegetação nativa e minimiza o impacto na paisagem.
EX CASA DA BARRAGEM
O bloco principal corresponde à casa da barragem, cuja estrutura de muros de arrimo de pedra é reutilizada para desenvolver o centro de interpretação. À construção existente se acopla uma série de serviços articulada por um corredor técnico que permite o acesso independente a partir do interior dos mesmos. A nova cobertura transitável se desprende dos muros, permitindo a entrada de luz e o controle térmico dos espaços internos.
CASA DO GUARDA FLORESTAL
O bloco posterior concentra a atividade habitacional: a casa do guarda florestal e pessoal da reserva. Estrutura-se seguindo a inclinação do terreno. A porção enterrada na topografia aproveita a inércia térmica da terra para o condicionamento e proteção climática. A peça se encontra semienterrada em sua face sul e aberta a norte para um pátio privado que articula o bloco do centro de interpretação.
TECNOLOGIA SUSTENTÁVEL
A intervenção é projetada com materiais nobres como o concreto armado com a utilização de areia e pedra do lugar, materiais de baixa manutenção, adequados a uma obra pública.Os tetos planos de concreto armado com coberturas invertidas de pastilhas facilitam a drenagem das águas de chuva e o uso como terraço da reserva. Todos os ambientes são projetados com ventilação cruzada para forçar naturalmente a circulação de ar através de aberturas zenitais na casa do guarda e janelas superiores no centro de interpretação. A topografia é aproveitada por suas qualidades térmicas no condicionamento dos espaços internos e como proteção dos ventos. A água da chuva é coletada através de um condutor na base da topografia e direcionada a um tanque de armazenamento para reutilização em sanitários e irrigação.
CONCLUSÃO
A aspiração principal da proposta é uma intervenção com impacto mínimo à paisagem e aproveitamento máximo de recursos naturais. O projeto se estrutura como um gesto no território, um mirante que reforça os componentes naturais da reserva Vaquerías e proporciona o desenvolvimento de atividades educativas, recreativas e interpretativas em contato com a natureza.
TERCEIRO LUGAR
Equipe: Arq. Manuel Martínez + Arq. Franco Morero + Arq. Nahuel Recabarren
DÍPTICO: ENQUADRAMENTO DE MEMÓRIA E NATUREZA
A Reserva Natural Vaquerías exibe características paisagísticas excepcionais uma vez que preserva as condições mais típicas do ecossistema de Serra Chica. Frente a este meio natural de grande pregnância, a arquitetura opera como uma segunda ordem artificial sobreposta. A proposta exacerba esta condição de contraste entre o natural e o humano. Dois prismas simples de base quadrangular se impõem à riqueza da paisagem e atuam como dispositivos de "enquadramento" da natureza e da memória.
ENQUADRAMENTO DA MEMÓRIA
A antiga casa da barragem, uma construção abandonada que remete à presença histórica da universidade na reserva, é convertida no espaço de exposições principal do novo centro de interpretação. No lugar de tentar restituir a antiga construção, é conservada e tematizada como uma ruína. Sob este ponto de vista das preexistências, a proposta cobre a antiga casa com uma estrutura quadrangular de concreto inundada em 24 metros do lado que flutua sobre as antigas muralhas. Esta cobertura protege a construção como um sítio arqueológico. Este novo enquadramento da ruína a torna protagonista. Como complemento desta grande cobertura de concreto, um prisma menor contém a casa do guarda. A casa se projeta ligeiramente sobre uma encosta e se abre como um mirante em um córrego próximo.
CRIADOR DE FLUXOS
A proposta reorganiza o sistema de fluxos da área que atualmente é pouco legível e desordenado, definindo uma coreografia de movimentos que começa no arco de acesso ao edifício que leva à clareira onde se localiza o centro de interpretação. A partir daí, os visitantes podem subir por uma rampa até o centro de interpretação e a área de exposições. Através de uma escada suave é possível, por sua vez, subir até a cobertura inundada do edifício. Esta cobertura define uma praça de água que serve como um mirante de contemplação que reflete e amplifica a vegetação circundante. A partir deste espaço, através de uma passarela que vence o declive do terreno, chega-se aos caminhos turísticos da reserva.
ENQUADRAMENTO DA NATUREZA
O território natural não é entendido como uma paisagem visual, mas como um sistema físico e biológico. Neste sentido, o edifício atua como um dispositivo técnico que se integra a este sistema e estabelece relações de intercâmbio. A cobertura do centro de interpretação atua como um grande coletor e reservatório de água da chuva que, depois de filtrada e tratada, é acumulada para prover água para irrigação e descargas sanitárias. Esta massa de água acumulada serve também para amortecer as variações de temperatura típicas do clima mediterrâneo. A cobertura também incorpora coletores solares para gerar água aquecida e painéis fotovoltaicos para a produção de eletricidade. Todos estes dispositivos técnicos, expostos na cobertura do edifício, são parte fundamental do sentido didático do edifício, contribuindo para destacar a importância de uma inter-relação adequada com o meio natural.